Sonho de uma Noite de Verão
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Sonho de uma Noite de Verão
Texto de Fernando Villas-Boas, e incluído na Folha de Sala
Este Sonho de Uma Noite de Verão foi escrito para uma festa de casamento cortesã e, como compete, saúda o amor e o desejo; o entendimento entre os pares e de todos à sua volta… e, enfim, a ordem do acasalamento como um fenómeno de grandeza planetária. Não só a Cidade responde ao encontro, como também a Natureza em volta afina, ou parece afinar o seu ritmo pela alegria do casal ou casais.
Ou pelo menos é o que diz a tradição deste tipo de animações festivas. Shakespeare decidiu complicar esse caminho simples e iluminado para a harmonia e povoar a festa de figuras que aumentam imensamente a confusão do percurso, mas que acabam por colorir e aumentar a alegria do desenlace… ou, enlace, podemos dizer, nesta ocasião.
Vemos Teseu e Hipólita, figuras lendárias, que nesta peça de Shakespeare nos aparecem mais terrenos ou mesmo domésticos, prontos para o seu casamento semidivino, e que acabarão por ser padrinhos de dois casamentos humanos mais ou menos acidentais. Hérmia, Helena, Lisandro e Demétrio formam os dois jovens casais humanos que, em fuga da Cidade e da sua lei, se irão perder num bosque onde impera outro casal, Titânia e Oberon, o macho e a fêmea mais poderosos desse reino de magia e possibilidade, que, zangados como é seu costume, vão baralhar todos à sua volta, como quem quebra loiça até acalmar. Como são eternos, podem zangar-se à vontade… O casal mágico vai interferir na corrida dos amantes, e também vai baralhar as voltas ao quarto grupo desta desordem amigável, um grupo de obreiras da Cidade que se mete no bosque para ensaiar uma peça de teatro, em saudação das bodas de Teseu e Hipólita, e em troca de uns honestos “cobres”. O ensaio das obreiras acaba revirado por algumas partidas mágicas… mas tudo acabará em bem, com a peça das obreiras a servir de serão teatral desengonçado diante dos senhores, e com humanos, semideuses, elfos e fadas, todos unidos por vontade dos monarcas do sonho, Oberon e Titânia, que se reconciliam para abençoarem as camas frescas dessa noite.
Dentro desta festa, a Companhia Maior criou a sua festa. O grupo brinca ao amor e aos calores da juventude, que os novos não conhecem tão bem como os que já deram algumas voltas ao parque… ou ao bosque. O grupo pede emprestado a este Sonho o seu tema da seriedade ligeira de estar aqui, ao alcance de humanos e de imortais; do jogo de viver e de fazer teatradas. Fizemos tudo com a mesma alegria de uma das teatreiras da peça, a figuraça da companhia, a quem demos o nome português de Borbota, a tecedeira. Fizemos como tem valido a pena fazer na vida deste grupo… e na vida em geral, feitas as contas. Ora vejam se não é:
Vamos aparecer. E lá vamos ensaiar, obscenamente e corajosamente. Haja suor. Haja perfeição. Pronto. Vamos a cumprir. Ou vai ou racha!