Maior
Textos
A Vida até Além (título de Luna Andermatt)
Texto de Luísa Taveira, e incluído na Folha de Sala
Simone de Beauvoir diz que “para que o envelhecimento não seja uma ridícula imitação da nossa existência anterior, só existe uma solução que é a de continuar a perseguir o que dá sentido à nossa vida: dedicação às pessoas, causas, trabalho social, político, intelectual e criativo e, contrariamente ao que muitos advogam, a solução está mesmo na manutenção das paixões”.
Envelhecer, não sendo algo que alguma vez se tenha aceite de bom grado, pelas alterações desfavoráveis que lhe estão inerentes requer, na era da imagem das nossas sociedades civilizadas, uma imensa coragem. Pois não basta sentirmo-nos sempre jovens é preciso também parece-lo, sendo que a responsabilidade perante este dilema reside silenciosa e quase exclusivamente em cada um nós. O tema não podia ser mais universal e, contudo, parece ser o mais evitado.
Para esta fase da vida, a sociedade cria a ideia de dependência versus produtividade, e descarta qualquer hipótese de aproveitamento do enorme manancial acumulado, próprio dessas idades. A isto acrescenta a exclusão, o descrédito, a falta de preparação, os tabus, o desinteresse, os preconceitos de toda uma forma de pensar e continua a tratar como uma minoria irrelevante (se é que alguma minoria o possa ser) o que é já, inequivocamente, uma grande maioria.
Neste segundo ano de existência, reafirmamos a intenção primordial do projecto da Companhia Maior que é a de encontrar, com estes artistas, novos caminhos e formas de expressão, desenvolvendo aptidões e transformando fragilidades em soluções artísticas, nas quais nos possamos rever. Nesse sentido, o potencial destas idades e de cada artista per si é ilimitado se, no seio de um saudável confronto de gerações, o soubermos aproveitar.
2012 é o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Gerações no âmbito do qual estaremos presentes numa projectada digressão pelo país, com o espectáculo que agora apresentamos de Clara Andermatt e com uma nova estreia no Outono. Um especial agradecimento é devido ao Centro Cultural de Belém e à
Fundação EDP, que acompanham o projecto desde o início, e cujo apoio tem sido fundamental para a actividade da Companhia.
Abrir a possibilidade de inscrição da criatividade da idade maior nas nossas sociedades é, provavelmente, um dos grandes desafios do século XXI e aqui, à sua dimensão, também o da Companhia Maior. Não basta pensarmos só em termos económicos ou de saúde para que na sua velhice um homem continue um homem. Desde a juventude e maturidade até à idade maior (e parafraseando novamente Simone de Beauvoir) “é todo um sistema que está em causa e a reivindicação só pode ser radical: mudar a vida”.