Joana Craveiro

Mapa Mundi

2018

Um texto original de Joana Craveiro, escrito para a Companhia Maior, a partir de memórias, impressões da realidade e geografias várias, físicas e emocionais do seu elenco. Constituindo-se como um mapa interior, este espetáculo pretende celebrar a riqueza e profundidade das vidas dos artistas da Companhia, bem como criar com eles uma geografia poética dos lugares que já habitaram, visitaram ou que gostariam de visitar, e revisitar ainda os seus livros preferidos, que os constituíram como pessoas e seres pensantes.



Um círculo que se desfaz ou como mapear o novo mundo que aqui criámos

Bem-vindos a um espectáculo-encontro-experiência-viagem. Nele, ensaiamos aquilo a que chamámos “ficção científica autobiográfica”. Não sabemos se esse termo pode descrever completamente aquilo que aqui se construiu, nem talvez seja relevante que o faça. Bastará fixar este princípio: construiu-se com as vidas Deles, com o que eles ofereceram dessas vidas ao processo de criação. E cruzou-se com universos da ficção científica, porque se quis convocar esses universos para este mundo de repente tão irreal que habitamos e que bem podia ter saído das páginas de um desses livros (leia-se, por exemplo, o excerto inicial de Os Despojados, de Ursula Le Guin, que começa com as palavras “Havia um muro”-  e mais não diremos, para já).

Mas, para começar, falemos de tentativas, ou:

  1. Eles encontram-se

Mapa Mundi é o resultado de um encontro entre a Companhia Maior e o Teatro do Vestido. É, por isso, um espectáculo de partilha e de descoberta mútua – uma construção a meias entre formas de fazer e de funcionar. É também um espectáculo onde estão presentes diferentes gerações de pessoas – e isso, é rico, é desafiante, é entusiasmante – e é bom. Aquilo de que se fala em Mapa Mundi – a construção de um novo mundo – é, por isso, também, uma metáfora deste encontro materializado entre duas formas de fazer por parte de dois grupos distintos de pessoas, naquela terra aonde eles chegam em conjunto – para povoar, para construir. Para descobrir, enfim. Para se descobrirem.

  1. Como nós

Em Mapa Mundi usamos a metáfora de um outro lugar – de um mundo novo – a metáfora do encontro com o/um outro – para falar de várias coisas que são relevantes para o mundo de hoje e que não vou aqui enunciar (sob pena de condicionar a leitura do espectador), mas também desse encontro de que falei em 1. É, por isso, um espectáculo sobre a possibilidade generosa do encontro e do acolhimento.

(E que relevantes se tornaram de repente essas palavras. Quase actos de resistência. Ou seja, contra a corrente: dos tempos e das ideologias deste tempo.)

  1. Frágeis, como nós

Em Mapa Mundi ensaiamos diferentes formas de fragilidade e de se ser frágil, enquanto somos observados nessa exposição. É, por isso, um espectáculo sobre uma certa forma de nudez interior e anterior, sobre a nossa história posta a nu e ali à frente de todos, e a fragilidade que acompanha esse momento de partilha. É também sobre a força que precisamos de treinar em nós, para aguentar assistir a tais momentos de exposição sem fugirmos porta fora.

  1.  É sobre esperança

Este é um espectáculo dedicado ao futuro, aos que virão.
Porque no futuro há esperança, a palavra preferida de Uma de Nós.
Uma palavra feita sobretudo para tempos sombrios.
Que nos faz olhar em frente e não para o chão
(nós não gostamos dos que nos fazem olhar para o chão).
Nós precisamos de olhar em frente
Olhar fundo
Ao fundo
Olhar sem medo.
Nós precisamos de não ter medo que a História se repita e nos apanhe nas suas curvas e esquinas e nos deite ao chão.
Nós precisamos de saber que haverá lugar para nós todos nessa nave espacial que vai partir parece que daqui a bocado.

  1. Ainda o amor

Se dúvidas restarem, queremos afirmar: Mapa Mundi é um espectáculo sobre o amor, e que procura as oportunidades todas para falar dele, para o contar.

  1. Depois de tudo acabar

Mapa Mundi tem lugar depois de tudo acabar, mas nega precisamente a possibilidade de fim.
É, por isso, um espectáculo sobre essa palavra enorme: Continuar.
Isto são só algumas pistas.
A resolução está no espectáculo em si.
É lá que nos encontramos.

Boa viagem.
Joana Craveiro

(Escrito naquilo a que se chama Antiga Ortografia, e que era a forma de escrita utilizada Antes de Tudo Ter Acabado. Antigamente, portanto.)

Ficha Técnica e Artística

Texto e direção
Joana Craveiro

Intérpretes
Angelina Mateus, Carlos Fernandes, Carlos Nery, Catarina Rico, Cristina Gonçalves, Elisa Worm, Isabel Simões, João Silvestre, Jorge Leal Cardoso, Júlia Guerra, Kimberley Ribeiro, Manuela de Sousa Rama, Maria Emília Castanheira, Maria Helena Falé, Maria José Baião, Mário Figueiredo, Paula Bárcia (Companhia Maior) e Estevão Antunes, Inês Rosado, Pedro Caeiro, Simon Frankel, Tânia Guerreiro (Teatro do Vestido)

Desenho de luz
João Cachulo
Música
BlackBambi (Miguel Bonneville)
Figurinos
Tânia Guerreiro
Cenografia
Carla Martinez
Som
Sérgio Milhano | Ponto Zurca
Fotografia
Bruno Simão
Registo vídeo do espetáculo
Marco Arantes

Produção executiva
Companhia Maior
Produtoras do Teatro do Vestido
Cláudia Teixeira e Joana Cordeiro
Produtor da Companhia Maior
Luís Moreira

Coprodução
Centro Cultural de Belém
Companhia Maior

Teatro do Vestido

Parceiros institucionais
Câmara Municipal de Lisboa
Junta de Freguesia de Belém

Apoios

El Corte Inglês
ESPAZO self-storage
Eficácia Livre
Turismo de Lisboa

Agradecimentos

Armando Oliveira
Carlos Ramos
Centro Social de Belém
Rodrigo Francisco

A Companhia Maior em residência no Centro Cultural de Belém, é apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito do RAAML

O Teatro do Vestido é uma estrutura financiada pela República Portuguesa / Ministério da Cultura / Direção Geral das Artes.

Joana Craveiro é artista residente do Teatro Viriato

Apresentações

ESTREIA
9 a 12 de dezembro 2018
Centro Cultural de Belém
Lisboa

Fotografias desta página: © Bruno Simão

© Companhia Maior