Clara Andermatt
Maior
2011
A vida é mediação do sonho; Os desejos que se concretizam nascem dum imaginário…
Nesta obra trabalha-se um objeto coreográfico dinâmico, verdadeira mimesis dos processos de pensamento.
Da espontaneidade, da pura reação improvisada, abstraímos todo um universo de possibilidades de uma enorme vastidão.
O possível é muito mais rico que o real!
O trabalho assentou numa base de improvisação na busca de extrair de cada um o material coreográfico que constitui o conteúdo da peça.
A improvisação é estruturada: visa despertar nos intérpretes a lógica do movimento, do tempo, dos ritmos do pensamento, a relação dos corpos com o objeto, com a matéria, com os sons.
Num espaço sem referências, branco; espaço despido, onde tudo o que o habita se amplia e se recorta, tal como estes intérpretes o merecem, tal como os pretendo mostrar.
Objetos são pontos de partida, pontes para um outro infinito.
Um Espelho; Metáfora fractal da autoprojeção interior.
Uma mala que não existe; Metonímia do invisível.
Paradoxo; metodologia coreográfica.
Sendo o concreto permeado pelo imaterial, pelo imaginário, regressa ao real, numa circulação que acrescenta uma nova carga de sentido, uma realidade MAIOR.
O fundamental é revelar à consciência do microcosmos o mundo infinito que ela contém.
Por dentro da Companhia Maior,
(sob a batuta de quem a dirige)
Acontece
Que em cada passo…
num simples gesto…
até no só meditar…
o sangue volta a ferver
sem medida nem idade.
– Somos a entrega
– A luta feliz
– A vida até além
O sopro das luzes do palco dirá que, afinal!…
Todos nós somos a inspiração da terceira Juventude!
Luna Andermatt
Nov. 2011
Ficha Técnica e Artística
Direção e coreografia
Clara Andermatt
Intérpretes
Ana Diaz, Carlos Nery, Cristina Gonçalves, Diana Coelho, Elisa Worm, Helena Marchand, Isabel Millet, Isabel Simões, Iva Delgado, Jorge Falé, Júlia Guerra, Kimberley Ribeiro, Manuela De Sousa Rama, Michel, Paula Bárcia, Vítor Lopes
Participação especial
Luna Andermatt
Música original
Vítor Rua
Texto
Iva Delgado
Voz
António Duarte
Cenário
Artur Pinheiro
Figurinos
Aleksandar Protic
Desenho de luz
Wilma Moutinho
Assistência à coreografia
Cláudia Gaiolas
Madalena Brak-Lamy
Coprodução
Centro Cultural de Belém
Companhia Maior
Produção executiva
Companhia Maior
Produtor
Luís Moreira
Apoio à produção executiva
Companhia Clara Andermatt
(Alexandra Sabino / José Madeira)
Agradecimentos
Companhia Olga Roriz
Jonas Runa
Iva Delgado
António Duarte
Estúdio Dim Sum
Teresa Lima
Nuno Cabral
António Oliveira
Vitor Rua
António Pedrosa
Celeste Melo
Fernanda Rodrigues
Júlia Guerra
Apresentações
ESTREIA
8 a 11 dezembro 2011
Centro Cultural de Belém
Lisboa
REPOSIÇÕES
21 e 22 de janeiro 2012
Teatro Municipal de Almada
26 de abril 2012
Teatro Académico de Gil Vicente
Coimbra
28 de abril 2012
Teatro-Cine de Torres Vedras
19 de maio 2012
Teatro Aveirense
Aveiro
Fotografias desta página: © Bruno Simão
A vida até além
(título de Luna Andermatt)
Simone de Beauvoir diz que “para que o envelhecimento não seja uma ridícula imitação da nossa existência anterior, só existe uma solução que é a de continuar a perseguir o que dá sentido à nossa vida: dedicação às pessoas, causas, trabalho social, político, intelectual e criativo e, contrariamente ao que muitos advogam, a solução está mesmo na manutenção das paixões.”
Envelhecer, não sendo algo que alguma vez se tenha aceite de bom grado, pelas alterações desfavoráveis que lhe estão inerentes requer, na era da imagem das nossas sociedades civilizadas, uma imensa coragem. Pois não basta sentirmo-nos sempre jovens é preciso também parecê-lo, sendo que a responsabilidade perante este dilema reside silenciosa e quase exclusivamente em cada um de nós. O tema não podia ser mais universal e, contudo, parece ser o mais evitado. Para esta fase da vida, a sociedade cria a ideia de dependência versus produtividade, e descarta qualquer hipótese de aproveitamento do enorme manancial acumulado, próprio dessas idades. A isto acrescenta a exclusão, o descrédito, a falta de preparação, os tabus, o desinteresse, os preconceitos de toda uma forma de pensar e continua a tratar como uma minoria irrelevante (se é que alguma minoria o possa ser) o que é já, inequivocamente, uma grande maioria.
Neste segundo ano de existência, reafirmamos a intenção primordial do projeto da Companhia Maior que é a de encontrar, com estes artistas, novos caminhos e formas de expressão, desenvolvendo aptidões e transformando fragilidades em soluções artísticas, nas quais nos possamos rever. Nesse sentido, o potencial destas idades e de cada artista per si é ilimitado se, no seio de um saudável confronto de gerações, o soubermos aproveitar. 2012 é o Ano Europeu do Envelhecimento Ativo e da Solidariedade entre Gerações no âmbito do qual estaremos presentes numa projetada digressão pelo país, com o espetáculo que agora apresentamos de Clara Andermatt e com uma nova estreia no outono. Um especial agradecimento é devido ao Centro Cultural de Belém e à Fundação EDP, que acompanham o projeto desde o início, e cujo apoio tem sido fundamental para a atividade da Companhia.
Abrir a possibilidade de inscrição da criatividade da idade maior nas nossas sociedades é, provavelmente, um dos grandes desafios do século XXI e aqui, à sua dimensão, também o da Companhia Maior. Não basta pensarmos só em termos económicos ou de saúde para que na sua velhice um homem continue um homem. Desde a juventude e maturidade até à idade maior (e parafraseando novamente Simone de Beauvoir) “é todo um sistema que está em causa e a reivindicação só pode ser radical: mudar a vida”.
Luísa Taveira
nov. 2011