Ana Borralho e João Galante​

Estalo Novo

2013

A partir de uma ideia inicial do casal Ana Borralho – João Galante, sobre formas de desobediência, depois transformada num pequeno inquérito de Rui Catalão entregue ao elenco de Companhia Maior, Estalo Novo é um projeto de colaboração em que as ideias geram testemunhos pessoais, que depois geram matérias a serem trabalhadas em coletivo. Aproveitando a experiência de pessoas que viveram e trabalharam num contexto ditatorial (o Estado Novo), assim como durante a revolução de Abril e a estabilização democrática, o objetivo deste trabalho é refletir sobre a história de um país, as histórias dos corpos que nele habitam e o regime em que atualmente vivemos. Estalo Novo, a peça que resultou deste processo, é uma guerra de palavras que testemunham grandes e pequenas guerras, umas públicas, outras privadas, mais algumas coletivas e tantas outras individuais. Todos lutam pelo seu legado de histórias, de testemunhos. Todos lutam por fazer viva a sua voz. O passado ergue o que somos no presente. É um vaivém de histórias em disputa. Cada intérprete aproxima-se da boca de cena e toma a palavra sem pedir licença. As suas palavras apagam as palavras de quem lá estava antes, para depois serem apagadas pelas palavras de quem lhe seguir.

Esta reposição acontece no âmbito das comemorações do quinquagésimo aniversário da Revolução de 25 de Abril de 1974 em parceria com o Museu Nacional de Etnologia e o Museu de Arte Popular e o apoio da Direção-Geral das Artes e da Cãmara Municipal de Lisboa.

Ficha Técnica e Artística

Conceito, direção artística e cenografia
Ana Borralho & João Galante

Intérpretes
Carlos Nery, Carlos Fernandes, Cristina Gonçalves, Diana Coelho, Elisa Worm, Helena Marchand, Isabel Millet, Isabel Simões, Iva Delgado, Jorge Falé, Júlia Guerra, Kimberley Ribeiro, Lúcia Marta, Michel, Paula Bárcia, Vítor Lopes

Apoio dramatúrgico
Rui Catalão
Desenho de luz
Thomas Walgrave
Banda sonora original
Pedro Augusto (a.k.a. Ghuna X)
Assistência de ensaios
Catarina Gonçalves e Tiago Gandra
Colaboração artística
Fernando Ribeiro
Fotografia
Bruno Simão
Registo vídeo
Patrícia Saramago
Produção executiva 
Companhia Maior
Produtor
Luís Moreira

Agradecimentos

MAISMENOS
LAC – Laboratório de Atividades Criativas
Mónica Samões

Apresentações

ESTREIA
28 a 30 novembro 2013
1 dezembro 2013
Centro Cultural de Belém
Lisboa

REPOSIÇÕES
7 dezembro 2014
MA scène nationale
Montbéliard, França

NOVO Estalo Novo

11, 17 e 18 maio 2024
Museu Nacional de Etnologia

20, 27 e 28 setembro 2024
Museu de Arte Popular

Fotografias desta página: © Bruno Simão

Estalo Novo

A partir de uma ideia inicial do casal Ana Borralho – João Galante, sobre formas de desobediência, depois transformada num pequeno inquérito de Rui Catalão entregue ao elenco de Companhia Maior, ESTALO NOVO é um projecto de colaboração em que as ideias geram testemunhos pessoais, que depois geram matérias a serem trabalhadas em colectivo. Aproveitando a experiência de pessoas que viveram e trabalharam num contexto ditatorial (o Estado Novo), assim como durante a revolução de Abril e a estabilização democrática, o objectivo deste trabalho é reflectir sobre a história de um país, e sobre as histórias dos corpos que nele habitam, e sobre o regime em que actualmente vivemos. ESTALO NOVO, a peça que resultou deste processo, é uma guerra de palavras que testemunham grandes e pequenas guerras, umas públicas, outras privadas, mais algumas colectivas e tantas outras individuais. Todos lutam pelo seu legado de histórias, de testemunhos. Todos lutam por fazer viva a sua voz. O passado ergue o que somos no presente. É um vaivém de histórias em disputa. Cada intérprete aproxima-se da boca de cena e toma a palavra sem pedir licença. As suas palavras apagam as palavras de quem lá estava antes, para depois serem apagadas pelas palavras de quem lhe seguir.

A história faz-se de histórias que se complementam, contradizem e contrariam, mas faz-se também com esse vaivém, com essa dança em que muitas vezes as nossas palavras servem tanto para serem escutadas como para apagarem as palavras dos outros. Trata-se de resgatar enredos pessoais numa sociedade, a nossa, que parece resistir à necessidade de mudar. Trata-se de entender quem é que traímos, ou o que é que traímos, quando não obedecemos. Traímos o que somos? Os nossos valores? Os nossos pequenos poderes e confortos? Ou o que se espera de nós? Ou as regras e hábitos vigentes? Ou as perversidades de um sistema em que se vai tornando insuportável viver? Ou simplesmente o nosso corpo que se vai cansado? Assim como as sociedades mudam, mudando de regime, também as pessoas mudam, mudando as suas formas de agir. E assim como os corpos envelhecem, também as sociedades envelhecem. E assim como os corpos que não se regeneram estão condenados a morrer, também os modos de pensar e de agir devem morrer, para dar lugar a outros mais dinâmicos. Aquilo que não muda, nem se adapta, está condenado a desaparecer. E nós? Onde é que os nossos atos de desobediência nos livram de ficarmos condenados.

Rui Catalão

© Companhia Maior